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”Eu tive que pegar o barco 10 da noite pra chegar aqui de
manhã, e ainda tive que esperar a maré mudar”, “eu tenho que sair mais cedo se
não vou chegar muito tarde da noite em casa”, Eu viajei 26 horas até aqui”,
foram falas assim que traduziram as distâncias atravessadas por técnicos e agricultores
de várias partes da Amazônia que se reuniram na sede da Associação Paraense de Apoio às Comunidades Carentes (APACC) no município de
Cametá – PA nos dias 06 a 08/11/12 em busca de aprimoramento de conhecimento no
3º e último módulo da Oficina de Metodologia Participativa Camponês (a)-
Camponês (a): difusão de conhecimentos agroecológicos na produção,
beneficiamento e comercialização sustentável na Amazônia, carinhosamente
chamado de “CaC”. Essa é mais uma atividade do Projeto Mulheres do Campo, financiado pela União Europeia e Pão Para o Mundo, conta com a articulação da ANA - Amazônia e é realizado pela APACC e pelo Movimento de Mulheres do Nordeste Paraensa (MMNEPA).
“Eu conheci algumas pessoas da equipe de coordenação do
projeto nos fóruns da vida e foi mais ou menos assim que eu vim parar aqui”, descontraiu
Dennis Montero, 48 anos, que veio diretamente da Costa Rica, na América
Central, para ser o consultor da oficina. Mestre em agroecologia pela
Universidade Nacional da Costa Rica, mesmo num português ainda um tanto confuso
ele não teve dificuldades para se fazer entender na língua universal da luta por uma
economia popular solidária, sustentável e territorial.
Estiveram presentes trabalhadoras e trabalhadores rurais de
Igarapé Miri, Limoeiro do Ajuru, Mocajuba, Oeiras do Pará e da própria Cametá,
das terras do nordeste paraense. De outros rincões da Amazônia brasileira ainda
participaram João Bosco, 40 anos, e Francisco Pinheiro, 56 anos, ambos de
Manaus – AM, além de Josefa Aparecida, 59 anos, de Rosário Oeste – MT. “Eu
recebi com muito carinho o convite para participar do CaC e vejo como de
fundamental importância essa integração entre camponeses porque nós estamos
todos na mesma luta”, analisou dona Zefa, como ficou sendo chamada por todas/os.
Segundo Frank Maciel, um dos coordenadores do projeto na
região, foi com bastante dificuldade que se realizaram três módulos dessa
oficina com pessoas que, na sua maioria, são de municípios próximos, mas que
pela própria característica da Amazônia encontram muitas dificuldades para se
reunirem. “Apesar das dificuldades de locomoção que encontramos em nossa
região, é bastante gratificante perceber nos camponeses o interesse pelo
aprimoramento de técnicas e na qualificação de nossa luta por uma segurança
alimentar para todas/os”, analisou.
SOBRE A METODOLOGIA CaC
A metodologia Camponês-a a Camponês-a tem como um dos
princípios norteadores que cada agricultora e cada agricultor são responsáveis
pela formação de outras/os agricultoras/es a partir de uma lógica comercial, de
produção e de mercado que vão de encontro modus operandi do agronegócio, que busca a maximização dos lucros em detrimento do meio ambiente
e do bem viver.
Realizada em três módulos, nessa última parte da oficina
cada uma/a pode avaliar as ações de multiplicação do CaC relativas à
comercialização encaminhadas a partir do segundo módulo, assim como
aprofundaram a metodologia do Diagnóstico Rápido Participativo (DRP) para que
cada comunidade possa se aprimorar de forma sistêmica e consistente.
E, finalmente, foi refletido como reforçar o uso de
ferramentas didáticas da metodologia do CaC e estabelecer ações coletivas para
a sustentabilidade do processo do mesmo, com o intuito de que o esforço de
todas/os para participarem desse espaço, longe ou muito longe de casa, possa
não apenas ser levado de volta às comunidades, mas também possa dar prosseguimento
a partir do protagonismo de cada mulher e cada homem do campo.
Abaixo, o vídeo com algumas imagens do evento.
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