terça-feira, 8 de fevereiro de 2011

O Fórum Social Mundial aterrissa em Dakar Esther Vivas


Tradução Português: Paulo Marques

 Uma manifestação reivindicando que 'Outro mundo e outra África são  possíveis', como dizia em uma das faixas da marcha, inaugurou neste  domingo, 6 de fevereiro (2011), ao meio dia uma nova edição do Fórum Social Mundial (FSM), que este ano se realiza em Dakar (Senegal). Milhares de pessoas, majoritariamente senegalesas e de outros países do
 continente, se manifestaram desde o centro da cidade até a  Universidade Cheikh Antha Diop, onde acontece o fórum, com lemas como  'Globalizemos as lutas contra o capitalismo', 'As terras para quem  nelas trabalham', 'Pelos direitos dos imigrantes', entre outros.
 
 Esta edição do FSM chega em um contexto inegavelmente de crise  estrutural do sistema capitalista e aqui a importância do mesmo como  espaço, não só de elaboração e discussão de alternativas, mas sim de
 articulação e fortalecimento de redes para a ação. Se o Fórum Social  Mundial nasceu como contraponto ao Fórum Econômico Mundial de Davos,  hoje, dez anos depois de sus primeira edição, se converteu, a pesar de  seus limites e contradições, como o principal espaço de encontro  internacional de uma grande diversidade de organizações e movimentos  sociais que apostam, com distintos enfoques e matizes, por um
 paradigma radicalmente distinto a serviço das pessoas e do ecosistema.
 
 Desde o primeiro Fórum Social Mundial em Porto Alegre, em janeiro de  2001, até a presente edição, o mapa global dos protestos têm mudado  substancialmente. Se o FSM surgiu no calor de Seattle, em um momento  de auge do movimento altermundialista, conectando com o espírito e o  sentimento do movimento emergente e erigindo-se como uma de suas  principais referências, hoje a situação é muito diferente. Nos
 encontramos em um período de descenso dos protestos a nível  internacional, com algumas exceções notáveis como as mobilizações pela  justiça climática, e uma maior focalização do conflito a nível
 regional, nacional e local contra agressões específicas aos direitos  sociais, trabalhistas, meio-ambientais. O Fórum Social Mundial têm  perdido centralidade, tanto externa como interna, mas, na falta de
 referencias melhores e em um contexto de crise sistêmica e da  necessidade de articulação de lutas, é o melhor dos espaços  existentes.
 
 Ao longo desta semana, uns sessenta mil participantes de mais de 1250  organizações, quase a metade africanas, se reunirão na capital do  Senegal para propor alternativas e, sobretudo, desenhar estratégias de
 ação para fazer frente aos embates do capitalismo. De fato, a pesar da  crise e do descrédito do sistema, as políticas neoliberais continuam e  se intensificam e existe uma enorme dificuldade para ultrapassar,
 sobretudo na Europa, e com exceções como França e Grécia, este mal  estar social em mobilização e protesto. América Latina têm sido  nesta última década o elo frágil do neoliberalismo em escala global
 e agora o norte da África, com Túnisia e Egito a frente, aponta um  novo despertar. O Fórum Social Mundial repassará sem dúvida esta  cartografía das resistências.
 * Esther Vivas desde Dakar (Senegal)
Pangea, internet solidari.

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