quarta-feira, 27 de fevereiro de 2013

Frutos das Mulheres do Campo:Associação Agroextrativista dos Moradores de Ajó (AMA)


Em 2009, como tinham fruto estragando nos terrenos delas, um grupo de mulheres começou a se juntar para preparar polpas aos sábados, até que perceberam o potencial que tinham em mãos e logo resolveram criar uma associação. A proximidade com a APACC, através do projeto Mulheres do Campo, fez com que tomassem conhecimento do Programa de Aquisiçãode Alimentos (PAA) e então corressem atrás da documentação necessária. “O que colhemos na safra utilizamos mais para o nosso próprio consumo, e nos demais meses vivemos do que conseguimos vender”, relata dona Catarina Lopes, de 58 anos.

A Associação Agroextrativista dos Moradores de Ajó (AMA), em Cametá, conta hoje com 23 associadas/os, sendo 17 mulheres e 06 homens. Com base na agroecologia e na economia solidária, várias atividades produtivas como criação de animais, plantio de frutas e verduras são parte do diversificado leque de possibilidades de geração de renda que a comunidade experimenta. Uma ação que começou quase como recreação de mulheres, graças à parceria com a APACC, através do projeto Mulheres do Campo (MdC) hoje é fundamental para a comunidade e para o município.
“De setembro pra cá, desde que recebemos cadernetas de anotação do projeto Mulheres do Campo, anotamos tudo que a gente produziu.

Organização, conscientização sobre meio ambiente e visão foi que de melhor adquirimos com essa parceria”, argumentou Catarina. Mãe de cinco filhos, os tempos de aperto passaram para sempre, segundo ela. “Hoje comemos melhor, temos mais saúde e mais esperança. Não podemos querer mais que isso”, concluiu.

OUTRA LÓGICA
Em qualquer grande empreendimento no campo, a lógica do agronegócio é diminuir a perda da plantação para pragas com o menor custo possível. Essa regra custo/benefício, porém, acarreta em males à saúde humana direta e indiretamente. A terra fica prejudicada, dependendo do manejo utilizado, há desmatamento e queimada, o que afeta não só o solo, mas acaba com as nascentes, e consequentemente mata igarapés e rios. Tudo isso é algo que não se vê na plantação da AMA. Não que não se combatam as pragas, não que não haja cultivo da terra, mas tudo isso não é feito apenas visando o lucro; visa-se o lucro, mas de uma forma que as pessoas, os animais e a grande mãe Gaya também sejam beneficiados.

O tempo na vida campesina é outro, comparado ao caos urbano que assola as grandes cidades. É nesse ritmo que dona Catarina mostra a plantação de verduras, todas muito verdinhas, cultivadas com o carinho de mulher. 

Curiosamente, a imagem das mulheres liderando a agroecologia, que visa não só proteger, mas recuperar áreas degradadas, lembra um pouco o que descrevera o filósofo alemão Friedrich Engels em “A Origem da Família”, onde discute que, quando as sociedades primitivas eram nômades, a liderança era exercida pelas mulheres. Até a figura divida era feminina, porque são as mães que geram a vida. Nessa época prevalecia um poder "com". Depois houve domínio de técnicas, das terras, surgiram cercas e a prevalência do homem sobre os outros e as outras.

Esse tempo do patriarcado estabeleceu que tudo que estivesse sob o homem era coisa, utensílio, assim como as mulheres, que foram limitadas ao papel do silêncio, da obediência, de consorte. Portanto, o simples gesto de cuidar da terra, para que ela ofereça o que há de melhor para filhos, filhas, companheiros e mantenha o equilíbrio, a partir do protagonismo de Catarina e suas amigas na comunidade de Ajó, faz com que séculos de opressão contra a humanidade e contra a terra ganhem um contraponto.

Nesse sentido, as mulheres da AMA propõe para Cametá e para a Amazônia outras relações, não verticais, mas horizontais, não retangulares, e sim circulares.

INFORMAÇÕES ESPECIAIS
Um dos mercados acessado pelas famílias da comunidade é o mercado da cidade de Cametá com destaque para a feira livre e feiras de economia solidária local que oportuniza a comercialização direta de produtos para consumidores da sede do município, além deste mercado, também a venda para supermercados e mercearias da cidade acontece em certo grau, porém, percebe-se que também não remunera os produtos de maneira satisfatória, no caso das mercearias.  Vale destacar que uma importante estratégia tem sido conduzida pela associação, que o mercado institucional por meio do programa de aquisição de alimentos (PAA), neste sentido a associação já executou um projeto no valor de R$ 15.000,00 e no momento está em período de negociação para um novo projeto a ser executado no ano de 2013.

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